15 outubro, 2014

Idá ao Rio Cristalino

Visão privilegiada no alto da torre.
    As margens do Rio Cristalino, acordamos pouco antes do sol nascer, em meio a uma intocável floresta amazônica. Os sons da noite se fundiam com os da manhã. Tomamos um café reforçado. Ainda sem a luz do sol, embarcamos em um pequeno barco de alumínio e, com um vento gelado, fomos até a outra margem. 
    A luz do amanhecer já começava a querer brilhar, com o equipamento ainda nas mochilas, andamos pouco mais de 1km na mata, até uma torre de ferro a 40 metro do chão da floresta. Subimos. E la no alto era possível o ver mundo verde e, também, fotografar de perto espécies que não vivem nas partes baixas da floresta.  
    Foi no Cristalino Jungle Lodge, em Alta Floresta-MT, lugar paradisíaco, que Rafael Fortes e eu passamos sete dias fotografando. A Reserva Particular do Patrimônio Nacional Cristalino possuí 11.399 hectares de floresta amazônica no seu mais puro estado natural (a infraestrutura foi construída em apenas 2 hectares da reserva). O rio de águas escuras, que corta a reserva, tem aproximadamente 110km de comprimento. Apesar da coloração o nome Cristalino refere-se a pureza e preservação desse afluente do Rio Teles-pires. 

Final de tarde. Garça-real em um tronco entre as margens do Rio Cristalino 
    No topo da floresta conseguimos fotos de espécies de aves, que sem a torre, não seriam possivelmente fotografadas. A exemplo do Anambé-de-coroa (Iodopleura isabellae), que apesar do nome falar em coroa, a verdadeira jóia dele esta por debaixo das asas, um roxo brilhante, possível de ver apenas quando movimenta-as.

Anambé-de-coroa (Iodopleura isabellae)
   Na torre também vimos, as cores do Brasil, o verde e o amarelo, representadas em uma simpática Marianinha-de-cabeça-amarela (Pionites leucogaster), pousada em um árvore muito próxima a nós.

Marianinha-de-cabeça-amarela (Pionites leucogaster)

     As trilhas da reserva são encantadoras, cheias de animais, sons e plantas das mais diversas. Contudo há humidade alta, calor, mosquitos e mutucas, que apesar de incômodos, não impendem o andar e muito menos o fotografar. Continuar em frente faz parte da busca. 

Fotografada em uma das trilhas da RPPN
   Chegar sem fazer barulho e mais camuflado possível ajuda na hora de fotografar o ilustre Coroa-de-fogo (Heterocercus linteatus), pois essa ave costuma viver sempre em um limitado território, o qual comanda e, quando fora de perigo, se mantém próximo ao solo. No caso da foto o indivíduo mora próximo a margem do Rio Cristalino

Coroa-de-fogo (Heterocercus linteatus) mostrando sua coroa vermelha.
               
            "A compaixão para com os animais é das mais nobres virtudes da natureza humana". - Darwin








04 outubro, 2014

As Linhas

     Uma ou mais linhas estéticas em uma foto, podem fazer um assunto simples transforma-se em arte.  São elas os detalhes, que conduzem o olhar do espectador pela foto, fazendo a mente fluir em pensamentos enquanto observa a imagem.
     Linhas diagonais, onduladas, retas, de cima pra baixo etc. Todas elas, não necessariamente juntas, fazem da foto algo interessante para o olhar. Não podemos, contudo, nunca dizer que são elas o único motivo que diferencia uma foto boa de uma ruim,  pois a fotografia é uma combinação de detalhes diversos, envolvendo sempre o fotógrafo, sua câmera e o assunto fotografado.
     Tentar explicar com palavras o que é de propriedade do sentido da visão é difícil. Uma foto traz infinitas mensagens, sendo difícil conseguir achar uma palavra que a defina. Justamente por isso, explicar o que são as linhas na fotografia, sem colocar exemplos é tanto quanto complicado.

    A primeira foto retrata diversas linhas, raízes se entrelaçando de forma, talvez, confusa. Contudo, o olhar sempre se foca em alguma linha específica e tende a segui-la.



     Nesta foto abaixo, a linha principal é a do tronco grosso, que sai do canto esquerdo, fazendo uma curva suave, até o canto médio direito. A ave empoleirada (Jacutinga), tem um papel importantíssimo, pois ela quebra a continuidade do olhar, por ser algo "inesperado"; no mundo da fotografia esse processo chama-se "Punctum", sendo ele tão essencial na fotografia quanto as linhas, mas farei outro post sobre o tal em breve.


     Abaixo: galho fino, ondulado, conduz o olhar de ponta a ponta, mas o espectador faz um pausa na libélula, que como na foto anterior, trata-se do "punctum". Destacasse nesta foto, além do galho ondulado, outras linhas: uma preta na diagonal no canto esquerdo e plantas fora de foco no canto direito. 





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São Paulo-SP
Amazônia, belezas naturais de São Paulo, linhas na fotografia, Victor Chahin

22 setembro, 2014

Os detalhes

     A fotografia é dependente da luz, mas nem a melhor luz faz uma boa foto. O fotógrafo em essência tem que ser um caçador incansável de detalhes e ter sempre um olhar aguçado para ver e reparar o ambiente qual o cerca. O mestre em fotografia, Araquém Alcântara, sempre destaca em seus pensamentos sobre a arte fotográfica, a importância do constante exercício do ver, e mesmo que sem a câmera, é importante estar imaginando fotos, ângulos e luz ideal.
    Acreditar sempre na foto e não desistir dela, mesmo que demore horas, dias, com condições adversas é outro ponto essencial, pois quando visto o detalhe, que pode se transformar em arte em suas lentes, é preciso ter paciência, mudar o ângulo, aproximar, distanciar e usar os recursos possíveis para conseguir o êxito previsto pelo fotógrafo. 
    A experiência do olhar pode ser aperfeiçoada com um vasto repertório de livros, conhecendo obras de fotógrafos, musicas e artes em geral. Mas sempre é importante não esquecer que cada um trás em suas fotos algo subjetivo, uma marca, e com o tempo todos nós devemos desenvolver um estilo diferente e jamais visto.
    
     As fotos abaixo foram todas feitas na Serra da Bocaina, no estado do Rio de Janeiro, nelas busquei me empenhar ao máximo para conseguir o melhor instante para a foto.





     "O olhar do fotógrafo está constantemente avaliando. Um fotógrafo pode captar a coincidência de linhas simplesmente ao mover a cabeça uma fração de milímetro. Pode modificar a perspectiva com um leve dobrar de joelhos. Ao colocar a câmara próximo ou distante do objeto, o fotógrafo pode desenhar um detalhe - ao qual toda a imagem pode ficar subordinada ou ainda que tiranize quem faz a foto. De qualquer modo, o fotógrafo compõe a foto praticamente na mesma duração de tempo que leva para apertar o disparador, na velocidade de um ato reflexo". - Henri Cartier-bresson em O Instante Decisivo 





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Belezas naturais de São Paulo.



09 agosto, 2014

Surge uma Arara

Eram por volta das 10 horas da manhã em um silencioso remanescente da Floresta Amazônica, próximo as margens do Rio Cristalino, em Alta Floresta-MT. Fazia um calor de 35 graus; a mata inteira descansava de mais um amanhecer movimentado e disputado.
Posicionados em uma torre de observação, no meio da mata, a 30 metros de altura, podíamos ver o horizonte; nele o verde das copas das árvores se encontravam com o azul do céu. Tudo muito quieto, estava. Tentávamos imaginar toda a biodiversidade, que vivia por debaixo daquelas imensidão verde. Olhávamos para todos os lados, contemplando o que deveria ser eterno.
 Foi quando o horizonte trouxe, solitária a voar, uma linda Arara-canindé; seus gritos quebravam o silencio da mata e seu azul e amarelo traziam novas cores para o momento. Então a fotografia começou a entrar em cena, mas antes do primeiro clique, veio a imaginaçao, o desejo do fotógrafo de que aquela ave voando, pousa-se em um determinado galho próximo a torre, onde a luz estava perfeita.
A Arara veio se aproximando de frente, ao chegar próxima a torre, começou a circular, como estivesse a procura de algum lugar para descanso. E como um sonho, ela estava la, pousada exatamente no galho imaginado. Parecia que o acaso do momento era na verdade algo ensaiado. E sem esperar muito, começamos a fotografa-la.
Quando tudo não parecia poder ficar melhor, a natureza mostrou conseguir transformar um momento belo, em mágico, pois minutos após a Arara pousar, um bando de outras 5 chegou, circulou a torre e pousaram em galhos próximos.
A foto. Araras são aves grandes e podem ser muito agitadas, nesse dia, elas pareciam disputar o melhor lugar para ficar, e ficavam brigando para ver quem conseguia. Foi nessa disputa, em que consegui esta foto, a qual valeu o dia.



"O verdadeiro fotógrafo da natureza, como de resto qualquer fotógrafo, deve escolher o caminho com o coração e nele viajar incansavelmente, contemplando como pessoa inteira tudo o que é vivo. Absolutamente íntegro, sem propósito a alcançar, sem submissão a regras e fórmulas, sem necessidade de parecer brilhante ou original. Só assim, autêntico e livre, pode captar o espírito criador em movimento e criar coisas belas”. Araquém Alcântara



São Paulo-SP,  9 de agosto de 2014. 


Belezas naturais de São Paulo.

03 junho, 2014

Salvem o Tanquã! - A proposta de construção de uma barragem, no Tanquã, ameaça causar impactos no ecossistema e prejudicar vida de moradores locais.

    Imaginem especies incríveis de aves, peixes e mamíferos sendo praticamente decimadas de um local considerado um refugio para a vida. Imaginem também, moradores ribeirinhos sendo diretamente prejudicados. É exatamente esse o temível destino do maravilhoso Tanquã. 
     Localizado próximo a cidade de Piracicaba-SP, o bairro Tanqua, é reconhecido como o "Pantanal Paulistano" por sua enorme concentração de especies de aves aquáticas, as quais sobrevivem a anos em uma lagoa limitada devido a antropomorfização do ambiente. A construção da barragem selaria o caixão dessas aves e outras especies, pois não teriam para onde fugir, quando as margens do Tanquã começarem desaparecer.
     Com Rafael Fortes, guia especializado em aves, fui conhecer esse refugio da vida no mês de março de 2014. Como inúmeros locais do Brasil, o Tanquã, me limitada a fala, pois não a palavras que descrevam o local. Portanto, esse é um dos motivos pelos quais, para sempre me ajudar a descrever o local, levo uma câmera.
      Uma das especies mais raras que pode se extinguir da região é o Socoí-amarelo (Ixobrychus involucris). Essa ave nos permitiu uma aproximação incomum e pudemos observa-la caçando pequenos peixes por longos minutos.